09/10/2012

Por

Ana

Quando me mudei pra cá e estudava holandês, brincava com o marido (namorado na época) que o melhor lugar para se praticar o idioma era no supermercado, de manhã. Pelo menos onde eu morava, sempre havia uns idosos fazendo compras cedinho, e eles adoravam fazer perguntas do tipo “você sabe onde encontro o açúcar?” ou “você enxerga o preço? Tá caro, né?” – aliás, existe “né” em holandês coisa que a-do-ro. E querendo ajudar eu acabava praticando meu holandês macarrônico. Se eles me entendiam não sei, mas eu tentava e ficava orgulhosa da minha cara de pau de estudante.

Há pouco descobri que os supermercados também são lugares ótimos para encontrar brasileiros. Verdade! É que os anos se passaram e eu continuo tagarelando pelos mercadinhos da cidade. Só que agora normalmente matracamos em português, eu e as crianças – o Miguel canta, grita, é uma beleza, chama uma atenção das boas. Então vira e mexe vem alguém puxar papo comigo.

Esses dias conheci a Shirley, um amor de pessoa. Estava lá na maior bagunça com a Julia brincando de caça ao tesouro/ingredientes para a pizza quando escuto “Ah, vocês também vão comer pizza hoje?”. Batemos o maior papo, trocamos duas receitas (sou rápida!) e seguimos com nossos filhotes, tomates e queijo ralado para a pizzada de domingo.

No final de semana passado a história se repetiu: conheci o Geraldo. Super simpático. Perguntou de onde éramos no Brasil, disse que já morava aqui há nove anos “naquele prédio ali ó”. Contou que esse mês vai ter festa na igreja portuguesa aqui em Amsterdam e claro, como bom brasileiro pai de família, sacou o celular para me mostrar orgulhoso as fotos das suas duas filhas. Lindas as meninas.

Não que eu vá ao mercado para fazer amigos – hello, quem compra o pão e o leite por aqui? – mas acho engraçado como ficamos mais propensos a um papo com alguém do nosso país quando estamos longe de casa. Duvido que o Geraldo ia me mostrar as fotos das filhas se tivesse topado comigo no Carrefour da Marginal do Tietê.

Pode parecer bobeira, mas por mais que esses bate-papos sejam simples e até supérfluos, eu me divirto. Adoro jogar conversa fora e me sinto também mais… brasileira. Em cinco minutos eu acabo sabendo mais da vida da Shirley que conheci na seção de queijos do que sei do meu vizinho que mora grudadinho à minha casa há 1 ano e meio. Ok, esse vizinho é um caso meio complicado, mas mesmo assim, será que são os holandeses que são quietinhos demais ou a brazucada que adora se comunicar? Ou será o fato de que moramos longe de casa e qualquer oportunidade de se sentir mais perto do Brasil a gente agarra? Eu agarro. Com as duas mãos.

Acho que a resposta para essas perguntas cabe a cada um. Só sei que vou continuar fazendo minhas comprinhas nesse mercado aqui perto de casa. Pelo menos por lá tem sempre alguém afim de bater um papo… em português.