22/10/2013

Por

Ana

Quando cheguei aqui há quase uma década {ai ai ai}, uma das primeiras intimações cartas que recebi do IND {serviço de naturalização e imigração} foi uma convocação para fazer um raio-x que comprovasse que eu não tinha tuberculose. Isso mesmo.

Lembro que na época achei esse papo de raio-x bem estranho, me senti um pouco ofendida, sabe? Do tipo, sou pobre mas sou limpinha? Então, sou do terceiro mundo, América do Sul e tal mas sou saudável. Por outro lado, pensei que esse controle não devia ser à toa, e lá fui eu fazer o exame.

Depois esqueci desta história toda de raio-x e tuberculose… até a Julia nascer. É que como ela é filha de gente que nasceu no Brasil – oi, prazer, Ana Paula – ela teria direito {veja bem, direito, não é obrigação, é privilégio} de tomar de graça a vacina contra a tal da tuberculose, a BCG.

Pois bem, os anos se passaram, o Miguel nasceu e a cartinha do serviço de saúde chegou novamente. Desta vez, convocando meu filho. E lá fomos nós para o mesmo lugar em que fiz o raio-x, para o mesmo lugar em que a Julia tomou a injeção. E no momento que entrei no prédio onde a vacina seria aplicada, lembrei o quanto eu me senti mal naquela sala de espera, desde a primeira vez em que pus meus pés ali, há 10 anos atrás.

Eu acredito na importância da BCG e até acho que há uma razão para que os imigrantes sejam obrigados a fazerem o raio-x, mas de resto, o lugar é meio deprê. Aquele climão de hospital lotado, com filas de espera de duas horas. E no meio da espera tem gente com cara de doente, gente tossindo, gente entediada, gente sem paciência e gente com cara de medo. Medo de ter que fazer raio-x porque a imigração mandou, medo de ser rejeitado, de ser mandado de volta pra casa*.

Depois de esperar e esperar fomos atendidos. E adivinhe? O Brasil não está mais na lista de países com alto índice de tuberculose, o que significa que o Miguel provavelmente foi uma das últimas crianças brasileiras da Holanda a receber a BCG. No que se refere ao raio-x, bem acho que é um procedimento que seguirá por aqui. Então não se assuste se você estiver chegando agora, faz parte.

O Miguel acabou tomando a injeção, e com isso ganhou uma marca registrada: uma pequena cicatriz de criança holandesa com sangue brasileiro. É a vida. E a mim, me restam dois confortos: a garantia de que meus filhos estão vacinados; e de saber que não colocarei os pés naquela sala de espera nunca mais tão cedo!

* Eu não sei se os imigrantes com tuberculose são deportados ou se eles recebem auxílio médico, este post é apenas um relato de uma experiência pessoal aqui na Holanda.