07/02/2014

Por

Ana

Já tem um
tempinho que a Julia recebe mesada. Ela ganha 40 centavos por semana, uma
merreca. Mas para uma menina de 4 anos que tem absolutamente TUDO o que
precisa em casa, acredito que esses centavos sejam mais do que suficiente.

Ela andava
numa fase pidona, queria comprar qualquer coisa que visse pela frente, de cartela
de adesivos a esparadrapo. Até no açougue achava uma coisinha. E sem mesmo saber o que tinha nas mãos, ela soltava um “mãe, compra?”, seguido de “mas eu quero” ou a melhor frase de todas, “eu piciso” (preciso). Então decidimos que era hora de começar a
educar nossa filha financeiramente. Ou pelo menos tentar. 

“Mãe, hoje
é glorious Saturday?”, ela pergunta – é assim que chamamos o sábado aqui em casa, e independente de ser o dia da mesada, ele é realmente
glorioso.

Julia recebe suas moedinhas que seguem com disciplina para o
seu cofrinho (em forma de cachorro). Ela fica feliz com os centjes e nós
ficamos felizes com o resultado: a pedição para comprar coisas
parou!
 

Quando ela quer alguma coisa, digo para ela olhar o preço na loja e depois
ver se tem dinheiro suficiente em casa, caso ela realmente queira muito comprar aquilo.
Não há mais infinitas discussões e longas explicações sobre por-que-comprar-ou-não-comprar. E de volta
em casa, ela normalmente acaba esquecendo que estava “precisando” de mais uma
pulseira de plástico cor-de-rosa ou de um chaveiro extra para a bicicleta.

Um sábado
desses, Juju perguntou se era dia de mesada. Era. Como eu estava ocupada na cozinha, disse para
ela pedir dinheiro para o pai. Ele fuçou no bolso e achou apenas uma moeda de
20 centavos.
“Filha,
este é meu último dinheiro”, como quem diz, depois te dou o restante.
“É seu
último dinheiro, pai? Você não tem mais?”, ela insistiu.
“Não, não
tenho. Só tenho este”, ele respondeu subestimando a profundidade das palavras
da filha.

E assim,
ela se dirigiu ao seu cofrinho, só que ao invés de colocar a moeda lá
dentro, ela tentou abri-lo.

“Se você
não tem mais dinheiro, pode ficar com o meu. Eu te dou”, ela disse entregando sua fortuna ao pai. 

.
.
.

A garganta secou e os olhos se encheram de lágrima (eu sou uma manteiga derretida assumida). Morri de orgulho da minha filha. 

Olhei para o meu marido – que estava com a mesma garganta seca e os olhos úmidos – e neste momento, neste exato
minuto, tivemos a certeza de que não estávamos apenas dando 40 centavos de
mesada para nossa filha: estamos sim, fazendo muito, mas muito mais do que
isto.