31/01/2015

Por

Ana

“Eu não quero ir no stomacada”, ele repetia na garupa da bicicleta.
– Quê?
– Ik wil niet naar de stomacada (“eu não quero ir
no stomacada”)
Que raios de stomacada é essa, pensava eu.
Pergunta vai, pergunta vem e bingo: supermercado! Ele não queria fazer compras.
Lógico. Ri sozinha e a palavra que a principio parecia absurda, foi adotada carinhosamente
em casa. Desde então não vamos ao supermercado ou ao supermarket vamos sim, ao stomacada
Ter criança pequena em casa é garantia de
falação, se eles forem bilíngues então, pode se preparar para as mais
lindas pérolas. É uma delicia e garantia de bons sorrisos.
Meus filhos são criados entre duas línguas,
eu falo português e meu marido holandês. As crianças entendem ambas e nos
respondem como convém. A Julia fala português bonitinho, fala bem
inclusive, Miguel se contenta em dizer “obrigada”, mas entende absolutamente
tudo.
Mas o mais gostoso, mais prazeroso do
aprendizado, são as palavras que eles criam, como stomacada e tamia, aquela
roupa de dormir que usamos todas as noites, conhece?  “Lavar a mão” é uma coisa só, tudojunto que vira “lavánamão”. E se
uma coisa for certa, ela é de “aéverdade”, o que na prática nos rende a seguinte situação:
– Filha, vai lavar a mão pra gente comer.
– eu já laveinamão, de aéverdade!
Ou:
– eu não quero lavánamão!
Tendeu?