24/06/2016

Por

Ana

Julia e Miguel jogavam cartas, as panelas estavam no fogo e Rafael no box – uma espécie de cercadinho – chorava. Voltei ao tempo. Exatos 4 anos, quando chegava do trabalho exausta e tentava cozinhar qualquer coisa com o Miguel aos prantos. Como era difícil, como sofri com meu filho que só queria atenção.

Por um segundo não acreditei estar vivendo esta situação novamente, por um segundo me culpei como se estivesse caído em uma cilada. “Eu sabia”, disse em voz alta, sabia que isso acontecer. Da mesma forma que hoje sei que tudo é uma fase, que tudo passa rápido até demais.

Respirei fundo, terminei o que estava cozinhando, pedi para os dois mais velhos colocarem a mesa e peguei o Rafael no colo. Repeti para mim mesma que estava tudo bem, bebês choram. Enquanto tranquilizava o menor dos três, os outros dois jantavam. Me servi uma taça de vinho branco bem gelada – fazia um calor inacreditável na cozinha – me acalmei e aproveitei aquele momento com meus filhos. O jantar é a hora em que mais conversamos, que eles me contam sobre o dia na escola, sobre os amigos e tudo mais. É uma hora bem gostosa.

“Ana, como você dá conta de três crianças?”, é o que mais tenho ouvido ultimamente. Pois bem, a resposta é simples: eu faço o que posso. A verdade é que eu não tenho muita opção, me entende? Eu coloquei três pessoinhas no mundo, agora tenho que cuidar delas.

3 filhos

Meus três holandeses, minha maior riqueza

E não, não é fácil, independente do numero de filhos. São poucas horas de sono para muita responsabilidade. Mas amor nunca falta – paciência as vezes acaba, confesso. E a maior vantagem do terceiro filho é a experiência dos pais. Assim como minha gestação, este período pós-parto está sendo sem duvidas o mais tranquilo dos três. E sim, o Rafael chora, tem cólicas e acorda a cada três/quatro horas para mamar. Isso enquanto os outros dois também querem atenção. No entanto tenho plena confiança de que tudo vai dar certo, sei que é apenas uma fase. Não entro em pânico facilmente e até agora foram poucos os momentos de stress.

O fato de estar em casa facilita muita nossa vida. Posso me dedicar 100% à família o que torna nossa rotina mais agradável. Apesar de ter um bebê acoplado em mim, tenho tempo para resolver pequenas coisas de casa pendentes há meses, estou muito mais presente na escola dos mais velhos e ainda consigo levar as crianças para passar a tarde no parquinho. O Rafael nos acompanha para todos os lados, mesmo porque não há alternativas. Ele faz mercado, leva a irmã mais velha na aula de ginástica olímpica e vai com o irmão até o campinho de futebol. E o pobre coitado já mamou em loja de material de construção, no parque e na escadaria do ginásio (por falta de ter onde se sentar). Com o terceiro a gente fica mais habilidosa e completamente desencanada grazadeus.

Além disso, o team work é aqui em casa indispensável. Enquanto um faz compras, o outro leva o filho do meio na natação. Se um arruma a cozinha após o jantar, o outro dá banho nos mais velhos. Um leva o outro busca, e assim vai. Por estar em casa acaba sobrando mais pra mim, mas dividimos as tarefas e responsabilidades o quanto podemos. Até Julia e Miguel tem colaborado em casa. São crianças independentes: se trocam sozinhos e conseguem fazer várias coisas sem a ajuda dos pais. Pegam um copo d’agua se têm sede e uma maçã se têm fome. Parece bobeira, mas ajuda muito. Também estamos delegando cada vez mais tarefas aos dois: por e tirar a mesa, arrumar os quartos e lavar um copo.

Outra coisa que aprendi nesses últimos dois meses: preparação. Deixo a mesa do café semi posta na noite anterior, assim como as lancheiras da escola já ficam prontinhas na geladeira. São pequenos detalhes que nos fazem ganhar tempo, principalmente durante a correria da manhã. Quando tenho que levar as crianças na escola, acordo mais cedo. Assim tenho 10 minutos só para mim e consigo começar o dia em um ritmo melhor. Aliás, tenho feito minhas coisas quando dá, ando driblando o tempo já que não consigo planejar. Cozinho de tarde se (e quando) o Rafael dorme, escrevo picado para o blog, tomo banho quando o marido chega em casa e fica com as crianças e durmo quando meu baby dorme.

Há dias bons e menos bons. “Count your blessings” é o que repito para mim mesma quando bate uma deprê. Estar em casa pode ser as vezes entediante, mas tento me convencer de que se eu tenho um cesto de roupas sujas imenso para lavar, é porque tem vida nesta casa, 5 vidas que em boa parte dependem de mim. E poder tomar um sorvete de tarde com meus filhos, assim, no meio da semana, também é muito gratificante.

Ah, e se no caminho  para a sorveteria o Rafael encher a fralda, a gente troca ele no carrinho mesmo, ou onde der. E se ele chorar, a gente pega no colo, dá carinho e curte intensamente o momento porque sabe que logo logo esta fase vai passar.