24/06/2017
Por
Ana
Estava em uma reunião de trabalho, visitando um fornecedor importante. Estendo a mão “prazer, Ana” e sinto meu telefone vibrar. Era da escola. E se a escola liga às 2 e meia da tarde durante a semana, é treta.
Merda, pensei. “Com licença, tenho que atender… é da escola dos meus filhos”. Viro de costas para falar discretamente enquanto no novo account manager vai buscar bebidas para a reunião. “Cappuccino sem açúcar, por favor”.
“Met Ana” – detalhe: aqui na Holanda a gente não fala alô quando atende o telefone e sim o nosso nome. Met significa com, então met Ana é com a Ana. Detalhe 2: quando o telefone é de trabalho é super comum atender a ligação e dizer o nome da empresa, então se eu trabalhasse na padaria “pão quente”, diria algo como “com a Ana da padaria pão quente” ao invés de alô. Enfim.
Do outro lado da linha vem uma voz doce, quase melada “mamaaaa”. Era a Julia. E se ela estava me ligando era porque ela estava inteira, não tinha caído da escada, quebrado o braço ou arrumado briga no recreio. Ufa. “mamaaaa, posso brincar na casa da E?”
Hã?
“Como ela conseguiu me ligar do telefone da recepção da escola?” era o único pensamento que se passava na minha cabeça. “mamaaaa, alsjeblieft”, por favor, ela me pedia. Expliquei que estava em cima da hora, que eu não tinha como falar com os pais da E. e que podíamos combinar outro dia. “oké, mama, doei”. Um “tá bom, tchau” e desligou o telefone.
“Tudo bem?”, perguntava o account manager.
“Tudo, era minha filha de 8 anos perguntando se podia ir brincar na casa da amiga.”
“Mas ela te ligou da escola? Uau! Com 8 anos eu não fazia isso.”
Pois é, nem eu. A verdade é que ela até merecia ir brincar na casa da amiguinha depois de ter convencido a professora e o pessoal da recepção por ter usado o telefone. Mas como estimular a perseverança sem sair do limite?
A verdade é que fiquei orgulhosa dela, do seu inocente atrevimento. Sabe quando criança faz arte e dá vontade de rir? Foi mais ou menos isso. Até agora não entendi como ela chegou ao telefone e acho que não vou entender. Deixa pra lá, deixa ela ser criança e deixa ela brincar com amigas. Nem que para isso tenha que driblar os cuidadores da escola e convencer a mãe aqui.