01/06/2017
Por
Ana
Quando a gente se muda para um país distante, a gente se reinventa, se redescobre. Nos vemos em uma nova cultura, com um idioma diferente e hábitos desconhecidos. Esta aventura pode parecer assustadora mas o aprendizado é enorme! Eu nunca imaginei que um dia na vida eu falaria holandês fluentemente ou que andaria de bicicleta cargo na chuva carregando três crianças.
A Holanda definitivamente me remodelou. Parte deste desenvolvimento tem a ver com a maturidade: são 13 anos em Amsterdam. Aqui eu casei, comprei casa e tive filhos, e o fato de morar neste país me faz encarar a vida de outra maneira:
1. Eu digo não
Holandês é direto. Não tem nhem nhem nhem. Podem por isso parecer indelicados ou indiferentes. No começo eu tive que engolir esta sinceridade toda, achava estranho quando alguém me dizia um “não” sem explicação. Hoje eu aprendi a conviver com isso e que não há problema em dizer não. E o melhor: você nem precisa dar desculpa por isso. Gente, é um alivio!
Não precisa ser grosseiro ou mal educado. Tampouco há necessidade de dizer não acompanhado por uma lista de justificações. Se as crianças não podem ir brincar na casa de um amigo, eu digo “esta tarde eles não podem, marcamos outro dia”, ao invés de “esta tarde eles não podem porque dormiram mal / não to afim / têm dentista / quero assistir um filme com eles no sofá”. O não é uma alternativa e aqui ninguém fica magoado se você optar por ela.
2. Eu valorizo o sol
Sol é vida! A frase não é original, mas para mim é a pura verdade. Sabe quando a gente só dá valor para uma coisa quando não a tem mais? É assim que me sinto em relação ao sol. Ele sempre me acompanhou enquanto eu morava no Brasil, estava lá, brilhando e me aquecendo. Cheguei na Holanda e puf: o sol sumiu. Então quando ele aparece eu dou valor. Eu saio de casa, abro as portas e janelas, penduro a roupa no varal no quintal e me estendo sobre uma cadeira como lagartixa, nem que seja por uns minutos, para abastecer o estoque de vitamina D.
3. Eu sou uma mulher independente – e gosto de ficar sozinha
Holandês é um bicho individualista. Estou generalizando, eu sei, mas eles prezam seu tempo livre e não estão acostumados a fazer tudo em par, e isso talvez tenha sido o maior choque que eu levei e o maior aprendizado nesses 13 anos. Eu tive que aprender a gostar de ficar sozinha, de passar tempo comigo, com as coisas que eu gosto de fazer e de respeitar que meu parceiro fizesse o mesmo.
Hoje eu gosto de ter esta liberdade, de poder sair e viajar de vez em quando com as amigas, e de ficar feliz pelo meu marido que também sai e viaja sozinho com seus amigos. É saudável, é maduro e faz bem para o nosso relacionamento. E o melhor é que esta independência toda me faz mais forte: pode parecer egoísta mas hoje eu sei que não dependo de ninguém para ser feliz!
Este texto faz parte de uma blogagem coletiva com outras blogueiras brasileiras na Holanda. Quer saber o que elas aprenderam no país dos moinhos? Confira esta super lista aqui:
Adorei seu post Ana Paula….bateu tudo com o meu vídeo….incrível!!!
Amei….bjos.
Que legal, Carol! Daria pra gente escrever um livro sobre este aprendizado, né? 🙂
Eu adoro esse jeito direto do holandês resolver as coisas. Imagino que seria mesmo um alívio não ficar inventando desculpas p o “não” … Evolução!
Recentemente a minha secretária precisou desmarcar as consultas agendadas pq eu tive um problema de saúde. Pois bem, quando eu retornei ao trabalho, TODOS os meus pacientes me perguntavam se eu havia melhorado, etc etc. Fiquei muito brava com a “proximidade” que isso gerou, pois para justificar o cancelamento da consulta, a secretária (brasileira e mal preparada) contou a eles do meu problema pessoal !!! Um absurdo no meu ponto de vista !
Imagino sua reação! Acho que a justificativa nem sempre adiciona algo, então me pergunto se vale a pena contar.
Esse tópico “3. Eu sou uma mulher independente…” é sensacional Ana.
Desde o começo do meu relacionamento (ela é holandesa) até agora, pude me tornar um homem mais feminista (e mais justo). Hoje em dia a incentivo a ter atividades nesse padrão e reconheço a importância disso. Aprendi a valorizar pessoas e não gêneros e isso é melhor para todos. Muito bem observado!
Que legal, Otávio. Obrigada. Eu acho que esta independência é fundamental num relacionamento.
Oi Ana,
Concordo com exatamente tudo o que vc escreveu. Já morei em Londres e desde 2005 moro em Florença e essa questão do “não” é super interessante. No começo também estranhei, mas aqui não tem nenhum mi-mi-mi… todo mundo bem direto e objetivo.
Bacio,
Denya
Oi Denya, obrigada por dividir sua experiência. E eu achava que os italianos não fossem tão diretos, assim! 😉
Nossa!!! Total ,também sou Ana e sou louca e apaixonada por um holandes há 4 anos , já estive na holanda por 4 vezes e foi preciso fazer um teste com outros fazer um estudo de caso hahah…Achava que era indiferença e tal ,mas vi que era cultural , sou mais velha que ele alguns anos tipo 8 anos , fiquei muito chateada na última vez que estava ai ele não pode me encontrar ,disse ele que estava muito ocupado tentou agendar haha mas não deu certo ,quando voltei ao Brasil não aguentei e joguei na cara haha mas também entendi que o problema não era ele … Gostaria de fazer algumas perguntas se puder me ajudar ..
Existe aí na holanda Preconceito no relacionamento onde um e rico e outro pobre ?
O que entender quando um holandes diz que vc é amiga quando vcs se pegam ?
Porque eles mudam tanto de humor ?
Help me
Oi Ana, essas diferenças culturais existem, acho que com o tempo vocês vão se conhecendo melhor e se entendo. Olha, a parte que muda de humor 59 vezes ao dia em casa, sou eu. Então acho que não é algo típico holandês 😉 Em holandês não existe a palavra namorado… a diferença é que usamos ‘amigo’ para amizade e ‘meu amigo’ quando estamos em um relacionamento. É meio confuso, talvez seja isso.
Obrigada Ana !! 😉
Olá, Ana. Estou mudando para Holanda no inicio do próximo ano e seu site tem me ajudado bastante a entender e organizar melhor toda essa mudança. Obrigada por dividir conosco um pouco da vida aí. bjs
Oi Renata, fico feliz em poder ajudar 🙂 Boa sorte com a mudança!
Oi Ana!
Que lindo seu blog e seus depoimentos. Viver é uma escola sem fim.
Estou indo no final de outubro para Amsterdã e gostaria de saber o que preciso levar para não passar frio. Vou com uma mala média e pensei em um casaco impermeável, jeans, gorros, e um cachecol. Acha que estou sendo simplista demais? Sou carioca de nascimento mas morei em lugares mais frios então não sou das que sofre muito com temperaturas baixas, mas queria ouvir dicas suas para essa empreitada pois é minha primeira vez por essas bandas. obrigada
Oi Silvia, obrigada. Que delicia que você está vindo pra cá. Um casaco é indispensável nesta época, gorro e cachecol também ajudam. Uma calca mais grossa, jeans mesmo, deve ser suficiente para o mês de outubro. Espero que você goste daqui! Boa viagem.