20/02/2018

Por

Ana

Estes dias eu resolvi mudar umas coisas em casa, coisas bobas, coisas culturais, coisas que têm me incomodado: decidi por exemplo que domingo era dia de almoçar em família com comida de verdade. A Holanda é o país do pão e um almoço aqui significa um sanduíche rápido, quase um repeteco do café da manhã – se eu deixar meus filhos almoçam numa boa um pão com geléia ou com Nutella. Sério.

Então avisei a família que domingo iria mudar, afinal, a mãe brasileira aqui tem influencia sobre o que é servido e ela gostaria de passar este rico habito aos seus holandeses. Marido achou tudo bem, as crianças nem me deram bola.

Comprei uma carne para assar ao forno, queria picanha mas o moço do açougue disse que “não era época” – oi? Resolvi não argumentar, sabe nada este moço. Trouxe rosbife, uma verdura e fiz um carpaccio de abobrinha com bastante parmesão para o meu tão desejado almoço de domingo.

Coloquei a mesa e esperei os meninos chegarem do futebol. 12:30 e tudo pronto. Já até queria abrir um vinho. Coloquei minha playlist para tocar e folheava o jornal aguardando a família. Às 13 eles chegaram, esfomeados. Yes! Julia estava com uma amiga em casa e Miguel trouxe um amigo do futebol. Éramos em sete, que riqueza, pensei.

Coloquei a carne e a verdura sobre à mesa, estava pronta para começar a servir os pratos. Nisso meu filho do meio se levanta, abre a geladeira e traz o pote de geleia de morango e um pedaço de queijo entre outras coisas. Julia pega o saco de pão do armário da despensa e o coloca sobre à mesa, entre a abobrinha e a geleia.

Eu assistia o que acontecia. Não falei nada, apenas observei como o pão era distribuído pelas crianças, como o pote de manteiga era passado de mão em mão enquanto eles se decidiam entre uma fatia de queijo ou de presunto. Servi meu prato e perguntei se alguém queria uma fatia de carne. Não quiseram. A amiga da minha filha até provou (com pão) e gostou. Os demais estavam satisfeitos com seus sanduíches.

“Terminei. A gente pode brincar?”

Diferenças culturais entre Brasil e Holanda

foto: EGAC

Eles saíram da mesa enquanto eu terminava minha refeição de domingo em família. Sem vinho, com musica e um pote de pasta de amendoim.

Eu vivo há 14 anos na Holanda, há 7 anos nesta casa e escrevo há 6 neste blog. E em todo este tempo posso te dizer que aprendi muito e que tive que me adaptar muito mais. Sim, eu posso influenciar minha casa, passar minha cultura à minha família mas também tenho que aceitar que estou fora, vivendo em um país diferente de onde nasci e cresci. O que nem sempre é fácil.

Talvez seja a crise dos 14 anos – se é que algo assim existe – mas tenho notado que ultimamente ando meio sem paciência para estas diferenças culturais. Estou nostálgica, com saudades de casa e dos costumes de onde eu cresci. Talvez seja apenas a falta que o Brasil faz, talvez seja culpa do inverno que parece não acabar nunca ou de mais um carnaval que não foi comemorado.

Viver fora requer flexibilidade e paciência. E neste trajeto sei que poderei ensinar costumes maravilhosos aos meus filhos – pense nas vantagens do bilinguismo – assim como terei que engolir aceitar algumas diferenças. Por hora decidi não tentar vender gelo aos esquimós: se eu quiser almoçar em família aos domingo um longo trajeto me espera… ou posso me conformar com o fato dos meus filhos preferirem comer pão durante o almoço, assim como o resto do país.