16/09/2016

Por

Ana

Meu período de mãe integral chegou ao fim. Foram quase seis meses em casa cuidando da prole. Rafael nasceu, Julia e Miguel entraram de férias e eu pude aproveitar tudo isso aqui de pertinho. Um verdadeiro privilégio. Mas no primeiro dia deste mês de setembro a vida voltou ao normal, ou não: desde então estou no batente fora de casa.

Não achei ruim voltar a trabalhar, tampouco estava morrendo de saudades do escritório. Estava bem contente em casa, mais feliz do que imaginei que ficaria. Mas enfim, sabia que este dia chegaria e estou em paz. A rotina daqui mudou mas o baque não foi tão intenso: apenas incluímos o Rafael na correria do dia a dia.

Para o meu pequeno a vida sim, mudou muito! De 100% em casa com a mamãe ele passou a frequentar 3 vezes por semana a kinderdagverblijf, a creche holandesa. Sua adaptação foi boa, aconteceu pouco a pouco: no primeiro dia ficou duas horinhas, depois mais duas e assim foi, até completar um dia inteiro. O coração fica as vezes apertado, mas sei que ele está bem e me dá um certo conforto saber que os dois mais velhos também passaram – ilesos – por esta experiência de berçário.

Primeiro dia do Rafael na creche

Primeiro dia do Rafael na creche: pendurado na professora

Como funciona a creche na Holanda?

A escolas aqui começam aos 4 anos de idade e são gratuitas – escrevi sobre isso lá no Ducs Amsterdam, já leu? Até o filhote completar esta idade, uma opção para pais que trabalham e estudam é deixar os pequenos em uma creche particular. O melhor é começar a buscar o berçário durante a gravidez e inscrever seu bebê enquanto ele ainda estiver na barriga. Parece absurdo mas as creches em Amsterdam são bem concorridas e há lista de espera dependendo do bairro onde você more.

Quando grávida da Julia, a inscrevi em OITO creches. Sim, oito. Ridículo, eu sei. Mas naquela época a procura era gigante e o número de creches insuficiente. Hoje em dia há muito mais oferta, mas mesmo assim vale a pena começar a buscar por um lugar o quanto antes. Existem inúmeras instituições em Amsterdam e o mais fácil é procurar por uma que fique perto de casa.

Achou o lugar ideal para seu bebê? Ótimo! Você deve então inscreve-lo, normalmente através de um formulário online. Algumas creches cobram taxa de inscrição. Depois de alguns meses eles te dirão se há vaga para os dias selecionados.

A prefeitura de Amsterdam dispõe de um kwaliteitswijzeruma espécie de tool online com todas as creches da cidade. La você encontra a localização e dados para contato, assim como o resultado do relatório de inspeção da prefeitura. É uma listona entediante em holandês, mas vale a pena checar antes de inscrever seu bebê.

Quanto custa a creche?

O kinderdagverblijf é pago, bem pago por sinal. Custa por volta de € 6,50 a hora e você paga por dia, ou período em que seu filho frequenta o berçário.

– Posso pagar então pelo tempo que usar, entre 8 da manhã e 3 da tarde?

Não, se a creche fica aberta 11 horas ao dia, por exemplo entre 7:30 e 18:30 você pagará a tarifa do dia todo, independente se usufruir de todas as horas. Lembrando que alguns berçários oferecem opção meio período.

Na maioria das vezes, a criança vai apenas alguns dias na semana para a creche. É normal que pais, mães e avós ajudem a cuidar dos pequenos. Por exemplo: o pai não trabalha às segundas (trabalho part time aqui é super comum), de terça o baby vai à creche, de quarta a mamãe fica em casa, de quinta os avós cuidam do netinho e de sexta ele volta ao berçário. Então os pais contratam os serviços da creche por dois dias na semana.

Voltando aos gastos: 1 dia de creche por semana custa cerca de € 300 ao mês. Isto é uma indicação, o valor na Holanda varia entre €4,66 e €8,81 por hora, segundo a pesquisa de 2015 do Boink).

Dói no bolso, eu sei.

Ajuda financeira do governo

Mas calma aí que a Holanda não seria a Holanda se o governo não te ajudasse a pagar a conta. Caso ambos pais trabalhem ou estudem, o governo dá uma ajuda financeira, o kinderopvangtoeslag. O valor varia conforme a carga horária de trabalho e a situação financeira da família.

Quer saber mais sobre o assunto e fazer um cálculo de quanto você poderá receber por mês? Dê uma olhada no site do belastingdienst (em holandês).

foto: Elvin (all creative commons)

foto: Elvin (all creative commons)

5 dicas para escolher a creche

Você acabou de chegar na Holanda ou teve seu primeiro filho e está cheio de duvidas sobre o assunto. Tamojuntos! Quer dizer, eu já passei por isso e sei que não é tão simples. Na época me perguntava: como escolher uma boa creche? O que tenho que perguntar, olha e avaliar? Aqui algumas dicas para te ajudar neste processo.

1. Localização, espaço e higiene

O tamanho do berçário, a iluminação e a ventilação são bons indicativos. É arejado, quente demais ou frio? Pense nos invernos rigorosos e nos dias de calor. Veja também se há móveis especiais para as crianças, se o vaso sanitário é infantil e se há suficiente camas (com travas) para todas as crianças.

Tem espaço para brincar lá fora? Delícia. Olhe se há uma cobertura contra o sol, se o piso é amigável para criaturinhas que engatinham e se há brinquedos específicos para o quintal. Tem areia, água, grama?

Visite os banheiros, dê uma olhada no chão, na cozinha e no cesto de lavar roupa. Ok, não espere algo extremamente organizado com 12 crianças circulando ao mesmo tempo, mas, limpo deve ser sim, principalmente no começo do dia. A louça está lavada, o saco de lixo é retirado regularmente, as mamadeiras e chupetas são esterilizadas com qual frequência?

2. Tamanho dos grupos e professores

Os grupos aqui atendem a 12 crianças no máximo. Uma professora pode cuidar de até 4 bebês ou 6 crianças maiores. Pergunte como é o esquema dos professores, de que horas a que horas eles trabalham e quantos ficam no grupo. O normal é ter no mínimo duas pessoas presentes na sala.

Questione sobre a hora de deixar e de buscar a criança. Seja especifico em quem poderá levar a criança pra casa (pai, mãe, avós, a vizinha que quebra aquele galho, sua sobrinha mais velha…). Converse bastante com os professores para ter uma idéia de quem cuidará de seu bebê. A pessoa parece ser autoritária, impaciente ou amorosa? Veja como ela lida com as outras crianças na creche durante sua primeira visita.

3. Rotina

Uma expressão que eu aprendi aqui e que acredito piamente é que crianças precisam de “rust en regelmat”, ou seja, tranquilidade e regularidade. Parece caretice mas não é: os pequenos necessitam de rotina. Pergunte na creche como é o esquema diário, as atividades e os horários. Outra coisa importante: qual método pedagógico eles seguem? Qual a visão da creche?

4. Atividades

Seu filhote passará umas belas horas do dia na creche, mas o que ele irá fazer além de comer e dormir? Se informe quais as atividades que eles oferecem. Aula de música, massagem para bebês, yoga… essas atividade são normalmente extras e enriquecem o dia a dia das crianças. Veja também a quantidade (e qualidade) de livros e brinquedos disponíveis no berçário. São novos, pedagógicos, interessantes?

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5. Comida e bebida

Existem creches que oferecem comida quente no almoço, outras trabalham apenas com produtos orgânicos. Há uma enorme diferença entre o que é servido à mesa entre as creches. Independente da sua escolha, opte por lugares onde produtos integrais e frutas frescas têm prioridade, e onde doces e açúcares são evitados.

E o mais importante

Seu feeling! Clicou com a creche, com o local e com as professoras? Isto é o que importa. Se tem aula de violino, se o iogurte é caseiro de leite de vaca holandesa premiada e se os móveis são design, isto tudo será irrelevante se a atmosfera do berçário não for das melhores. Na boa, se os professores forem profissionais, motivados, pacientes e carinhosos, seu filho será feliz e bem tratado. Ele aprenderá um montão, fará amigos e irá se divertir bastante. Mesmo tendo que comer um pãozinho simples com geléia de vez em quando.