13/12/2016

Por

Ana

Muita gente me pergunta como é a vida de uma Au Pair na Holanda, então convidei a Rovena para falar um pouco sobre o assunto. Ela trabalha há dois anos como Au Pair na Europa e conta neste guest post como é a sua vida por aqui.

Rovena, bem-vinda ao blog. O que é uma Au Pair?

Au Pair é alguém que vem de outro país para trabalhar com uma família (host Family ou família anfitriã) cuidando das crianças e por vezes de algumas tarefas domésticas pelo período máximo de 12 meses.

Uma Au Pair pode trabalhar no máximo 8 horas por dia, não ultrapassando 30 horas semanais e deve ter pelo menos 2 dias de folga por semana. A carga horária é mais baixa que um “trabalho normal” e tem a ver com o fato do programa não ser exclusivamente voltado para o trabalho, mas sim também para a questão do intercâmbio cultural – a Au Pair tem que ter tempo para explorar os arredores, conhecer outras cidades na Holanda, viajar, fazer um curso (de línguas, por exemplo) e é considerada como um integrante da casa e não um empregado. Pela lei holandesa, pessoas entre 18 e 30 anos podem participar do programa. E apesar do programa focar mais em mulheres, homens também podem ser Au Pairs, porém a demanda é beeem menor.

E quais são as obrigações da família anfitriã?

A família deve fornecer acomodação e refeições, além de pagar uma “mesada” de 300 a 340 euros mensais (não é considerado salário pois está abaixo do valor mínimo). Essas regras são específicas para a Holanda! Vários países oferecem o programa de Au Pair e cada um tem suas regras. Fatores como idade, carga horária e “mesada” variam de país para país.

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Flores e bicicleta: tipico holandês!

E por que você decidiu trabalhar como Au Pair?

Eu já havia feito intercâmbio nos EUA quando mais nova e tinha muita vontade de morar fora novamente, de preferência na Europa. Porém durante a faculdade esse sonho foi ficando meio esquecido. Me formei e decidi que era a hora. Sou formada em Direito e trabalhava como professora de inglês com turmas de crianças e adolescentes, portanto já tinha certa experiência em lidar com os pequenos. Eu conhecia o programa de Au Pair e o escolhi principalmente pela questão do custo benefício: ele é bem mais acessível que um intercâmbio de estudos, por exemplo.

Como assim, explica esta parte de custos.

Pela lei, a agência que faz a intermediação entre a Au Pair e a família, pode cobrar no máximo 34 euros da Au Pair, então os custos são basicamente com documentação (passaporte, traduções, etc) e com a passagem (existem famílias que ajudam com o custo da passagem ou a pagam integralmente). Acredito ser uma oportunidade incrível morar em outro país durante um ano e ter contato com outras culturas tão facilmente, ainda mais na Europa onde é tão fácil viajar. Portanto pra quem gosta de trabalhar com crianças essa é uma ótima escolha. Muitas meninas também escolhem o Au Pair para desenvolver melhor uma língua (geralmente o inglês), mas este fator não foi determinante pra mim.

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Uma das vantagens de ser Au Pair é poder passear e viajar pelo pais onde você trabalha. A Rovena visitou 11 países e conhece muitas cidades holandesas.

E como é morar na casa de uma família?

Para mim foi bem tranquilo. Quando eu fiz intercâmbio nos EUA eu também morei com uma host family durante 10 meses e foi ótimo. Quando cheguei na Holanda, tive a sorte de ter uma família maravilhosa que me fez sentir super acolhida desde o primeiro instante. No início às vezes ficamos pisando em ovos, com vergonha ou sem saber como agir, mas isso é natural! Com o tempo você vai entrando na rotina.

Eu realmente sentia que aquela era a minha casa e ficava à vontade: quando eu não estava trabalhando podia ficar pela sala assistindo TV ou ir pro meu quarto, eles sempre me deixaram livre para comer o que quisesse e perguntavam se eu queria algo do mercado. Além do mais eu podia receber amigas em casa, até mesmo para dormir lá. Criei uma relação de amizade com meus hosts: normalmente jantávamos juntos (sem as crianças) e era a hora que tínhamos para conversar tanto sobre a rotina da casa/crianças, quanto se estava tudo bem na minha adaptação, se eu precisava de algo… Eles me davam dicas do que fazer no final de semana, que cidade conhecer, se tinha algum evento que ia acontecer eles também me encorajavam a ir. Quando eu ia viajar pra algum lugar que eles já conheciam, também me davam dicas sobre o local… Enfim, cada um sabia respeitar o espaço do outro e foi bem tranquilo!

Parece ideal, mas tem algum lado ruim?

Acho que o maior “problema” de morar onde você trabalha é justamente separar quando você está trabalhando ou não, pode ser uma linha tênue. Mas as boas famílias sempre vão respeitar isso! Às vezes eu já estava livre e as crianças queriam que eu brincasse com elas, daí a mãe/pai dizia: “não, a Nena não pode agora”. Se eu não tinha compromissos ficava lá um pouco, afinal nós nos apegamos aos pequenos e, quando você tem um bom relacionamento com a família e crianças, passar tempo junto é prazer e não obrigação. Mas caso eu realmente estivesse ocupada, explicava que não podia brincar naquela hora e estava tudo bem.

O “conselho” que eu posso dar sobre a convivência com a família é: conversem sempre! Se você tiver com dúvidas sobre algo, se não souber como agir em tal situação na casa, se acha que está “incomodando”, se você não está se sentindo a vontade com algo… fale abertamente! Os holandeses estão acostumados a serem diretos e falam quando algo os incomoda, e também são super receptivos para escutar a outra parte.

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E qual a vantagem para uma familia ter Au Pair?

Dois fatores principais: custos e flexibilidade. As creches/after school care na Holanda são caras, assim como ter uma nanny também é (já que geralmente cobram por hora). Au Pair, por outro lado, ganha o mesmo valor de mesada independente de cuidar de 1 criança ou 2,3,4. Mesmo as famílias tendo o custo a mais de uma pessoa morando na casa, ainda assim costuma ser vantajoso.

E tem a questão da flexibilidade: a Au Pair tem um horário de trabalho definido, porém por vezes os hosts pedem que fique uma hora a mais aqui ou ali se sabem que vão se atrasar, ou então se quiserem sair para jantar, por exemplo. Durante a semana eu não costumava sair muito e meus hosts sabiam disso, às vezes eles decidiam de última hora que queriam ir dar uma corrida juntos e perguntavam se eu podia ficar 1 horinha com as meninas. Além disso, muitas famílias querem que as crianças tenham contato com outra língua/cultura. Eu cheguei sem falar naaada em holandês, então só falava inglês com as crianças. No começo foi difícil, mas em cerca de 2 meses elas já entendiam bastante e em poucos meses a mais velha (4 anos) começou a falar inglês e deslanchou! Hoje em dia ela fala tudo! A mais nova (3 anos agora) já está falando também. Eu sempre procurei mostrar um pouco da nossa cultura também, coisas como música, culinária (eles amam strognoff, brigadeiro, pão de queijo, caipirinha… hahaha), filmes etc.

Você está me animando, com três crianças eu adoraria ter uma ajuda de uma Au Pair em casa! Existe um perfil de familia, para quem você recomendaria uma au pair?
Uma família que precise de uma ajuda extra para manter as crianças bem cuidadas e felizes. Ter uma Au Pair significa uma constância maior, uma rotina mais equilibrada, pois a criança não precisa ficar o dia todo na creche ou escola e tem oportunidade de ficar em casa, fazer playdates, ir para outras atividades (aula de música, dança, natação etc) e na maioria das vezes a rotina dos pais não permitiria isso. Entretanto, a família deve ter consciência que a au pair não é simplesmente uma empregada. A família deve estar disposta a acolher alguém em seu lar e fazê-la se sentir bem ali.

Há muitas famílias maravilhosas, mas há também famílias que exploram e maltratam Au Pairs, querem apenas uma empregada e não se importam com o bem estar da mesma. E isso está longe de ser o intercâmbio cultural proposto. Além do que, au pair feliz = criança feliz.

Dia do Rei em Amsterdam

Comemorar o dia do rei em Amsterdam também faz parte da integração cultural

Pensando nos espaços das casas holandesas: o que é necessário para receber bem uma Au Pair? 

A família deve disponibilizar um quarto individual que pode ficar fora ou dentro da casa. Além de permitir acesso à todas as áreas comuns e poder usar os “serviços” como internet e lavanderia. O banheiro pode ser compartilhado com o restante da família, porém até mesmo por questão de privacidade de ambos, a maioria das famílias disponibiliza banheiro para a Au Pair ou dividido apenas com as crianças.

E para quem quiser trabalhar, qual é o caminho, o que voce recomenda?
Para ser au pair na Holanda, obrigatoriamente deve haver o intermédio de uma agência. Porém é possível encontrar uma família por conta própria (para isso recomendo o site www.aupairworld.com) e usar a agência apenas para a burocracia do visto. No site do IND há uma lista de todas as agências reconhecidas pelo governo holandês.

Caso você prefira fazer o processo diretamente com uma agência de intercâmbio, há algumas onde você monta seu perfil e a agência te apresenta para as famílias. Algumas delas têm representantes no Brasil: Intercultural, World study, HBN, House of Brazil e Triple C. As duas formas são seguras, a agência deve se certificar que a família tem condições financeiras suficientes para ter uma Au Pair, além de pedir o certificado de boa conduta (equivalente ao nosso antecedentes criminais).

Au Pair amigas para a vida

Uma recordação para vida toda: tatuagem de uma bike feita entre amigas para representar o ano delas como Au Pair na Holanda

Rovena, obrigada pelo bate-papo e a explicação! Tenho certeza que você conseguiu tirar as duvidas de muita gente e entusiasmar famílias como a minha.

PS: se quiser saber mais sobre a Rovena e sua vida de Au Pair, siga o blog My orange year e @rovenacarvalho no instagram.