01/09/2025

Por

Ana

Há mais de 13 anos compartilho minha vida por aqui. Tudo começou como um hobby, um desejo de escrever na minha língua materna. Falei sobre as minhas gestações, viagens e tantos outros momentos importantes da vida: quando compramos uma casa, quando abri minha empresa e mudei de carreira.
Hoje, volto a escrever sobre o pior acontecimento da minha vida, no momento mais difícil dos meus 44 anos.

Meu marido faleceu em março deste ano, em um acidente na montanha. Uma fatalidade, uma tragédia sem explicação. Ele caiu em uma vala coberta de neve nos Alpes Franceses, durante férias com amigos.
Se você já navegou por este site, provavelmente percebeu o quanto minha família ama a neve e os esportes de inverno. E antes que alguém pense que é algo arriscado ou imprudente, vale lembrar: há mais acidentes de carro do que de esqui ou snowboard.

Kees foi engolido pela montanha, em um trecho encoberto, por onde passam duas mil pessoas por dia durante a temporada. Duas mil. Poderia ter sido qualquer um, mas foi ele. Ele, que era apaixonado pelo esporte e começou a esquiar aos três anos de idade.

Desde então, minha vida ficou de ponta-cabeça. Continuamos morando na mesma casa. Não tenho planos de vender tudo e me mudar para o Brasil com três crianças. Pelo contrário: neste momento, quero que tudo continue como sempre foi. É o mais próximo do normal que posso oferecer aos meus filhos.

É estranho falar em estabilidade quando meu mundo desmoronou. Perdi meu amor, meu melhor amigo, o pai dos meus filhos, meu companheiro de vida. Foram 21 anos juntos — e em maio completaríamos 18 anos de casados. Quando paro para pensar, mal consigo entender como vivi esses últimos meses.
Acho que a gente segue porque não tem outra opção.

Posso apenas reafirmar que, entre tentar entender o que aconteceu, me despedir do Kees, reorganizar a vida e lidar com a administração e a burocracia, foram muitas emoções. Ainda me pergunto: como tudo pode seguir enquanto meu mundo parou? Às vezes não entendo. Outras vezes, agradeço por ter rotina e acordar todos os dias às sete da manhã para preparar a lancheira e levar filho à escola. Só sei que a vida me deu uma rasteira — e, aos poucos, estou tentando me levantar.

Tenho trabalhado um pouco e tentado manter a sanidade me respeitando. Fico muito em casa, faço exercícios, leio e escrevo. Eu e meus filhos precisamos de tempo e recolhimento. Aprendi que o luto vem em parcelas. Há momentos bons, e outros nem tanto.

Talvez eu volte a escrever mais por aqui, talvez não. Tenho vontade de falar sobre o funeral e todo seu processo, que é completamente diferente do Brasil. Intensamente triste e bonito. Também gostaria de falar com todas as pessoas que moram fora, que me leem e me seguem, o quanto é importante estar preparada e para uma tragédia dessas – não que eu acho que devemos viver com medo, mas saber as senhas do meu marido e ter pleno conhecimento das nossas finanças foi essencial. Enfim, há muito ainda que compartilhar, mas agora ainda não é a hora.

Não estou bem. Mas tenho certeza de que vou ficar.