03/08/2021
Por
Ana
Estamos fin-nal-men-te no Brasil – aleluia irmãos. As crianças tem seis semanas de férias durante o verão europeu e, depois de duas doses de Pfizer, uma negociação com o RH e gerência para trabalhar de casa “fora do país”, fizemos nossos PCRs, malas e nos mudamos por um mês e meio para a casa dos meus pais e irmã.
Nem preciso dizer o quanto estamos felizes (e vou dizer mesmo assim). Saudade é uma coisa difícil de lidar e quanto mais se espera passar pior a coisa fica. A gente vai perdendo a noção de tempo, de espaço e de cheiro de pai e mãe. E em tempos de pandemia, sim em tempos de pandemia, o que vale mesmo é ficar com quem amamos.
Saudade que mata
E com essa saudade toda dos avós, netos e tios, as crianças estão em uma empolgação que não acaba nunca. Euforia de quem foi ao Playcenter pela primeira vez sozinha com os amigos de escola – sou de 80 e de São Paulo, Playcenter sim.
E para acalentar a euforia e compensar a saudade vale tudo: de presentes caros a idas semanais ao Méqui, de ver filme até tarde, de não ter hora para dormir e tomar banho (o que é banho, para que serve?) e maratonas atrás de telas. Tudo para agradar o eleitorado infantil.
No quesito regras e rotina, sou normalmente bem rígida acredito piamente que criança precisa de rust & regelmat, paz e regularidade. But nas férias tudo muda e estou aqui escrevendo – e me chicoteando – sobre o quanto ando relaxada e consequentemente me sentindo uma mãe de merda.
Tenho culpa neste cartório: fui eu mesma que trouxe um tanto de mimos para os meus pais, sobrinho e irmãs. A gente quer dar um jeito de agradar, de tapar o buraco da distância com um creminho da Rituals ou com o boneco do baby Yoda – este ultimo sucesso garantido entre a molecada 9+ (anotem, titias). Também fui eu quem deixou eles assistirem filme até dormirem no sofá, quem pediu Méqui delivery mais de uma vez e quem deixou todos atrás de uma TV na casa da vovó e da titia com babá ou quem tivesse em casa porque eu estou trabalhando/ de férias e pre-ci-sa-va fazer as unhas, depilação e comprar uma brusinha nova daquela marca descolada que não tem na Holanda.
Esta liberdade toda é maravilhosa e não ter regras e a rotina de casa, um alivio. Agora o mínimo que eu esperava era um tiquinho de reconhecimento infantil pelos presentes e o tempo extra no iPad. Tolinha eu. Tive que negociar com criança emburrada pedindo por mais um dinossauro e fazendo cara feia por que tinha lasanha fresquinha de almoço (e eles só gostam de lasanha na Holanda – oi?) e queriam mesmo era comer nuggets e batata frita de novo.
Pois é.
Pensei em cortar tudo, acabar com a palhaçada férias e bancar a mãe sargento que sou. Dai me lembrei que: 1) estou de férias; 2) eles estão de férias; 3) que dos 365 dias do ano estamos passando 39 vivendo la vida loca assistindo mais desenho do que o normal e comendo mais besteiras do que o normal- selvagem.
Também me lembrei de uma amiga holandesa que diz o seguinte, que em termos de educação infantil e hábitos, o que se aprende se desaprende. E o que se desaprende a gente pode ensinar de novo. E fiz dessas palavras meu mantra durante esta temporada: se em casa eles dormem cedo e aqui não, que seja assim, quando a gente voltar para Amsterdam e para nossa rotina, eles dormirão novamente. Se aqui tem tela até mais tarde e refri, que aproveitem: chegando em casa a vida sem iPad e guaraná volta ao normal.
É assim: o que se estraga se desestraga.
em termos de educação infantil e hábitos, o que se aprende se desaprende. E o que se desaprende a gente pode ensinar de novo
E se eles não comerem a lasanha, tudo bem. Vão ficar com fome mais tarde. Também tive um papo serio com o caçula – que estava tipo a lagarta insatisfeita do Rupsje Nooitgenoeg – que agora era suficiente! E ele me explicou de volta todo fofo que já estava muito contente com o Pterodáctilo e o Velociraptor alcançados. Até pediu para ligar para a tia Zelma avisando que a outra titia já tinha comprado o dino que ele tanto queria – aparentemente ele tinha feito lobby entre todas as tias para ver quem compraria a coleção inteira do Jurassic Park primeiro. O menino é estratégico aos 5 anos de idade.
A verdade é que meus filhos estão mimados, felizes e eu relaxada.
E enquanto estiver bom para todo mundo, isso é o que importa. Afinal, tudo, tudo é temporário mas as memórias das férias livres e sem regras no Brasil, essas ficam.