06/12/2017
Por
Ana
– Mamãe, precisamos conversar.
– Fala, filha.
– Não dá, tem crianca pequena na mesa.
– Hã?
– Eu sei que tem um segredo sobre o Sinterklaas.
Já era, pensei. Chegou aquele dia que eu tanto (não) esperava. Julia, 8 anos, em duvida sobre a existência do bom velhinho holandês. Suas amigas já comentavam sobre o assunto, era ‘hot news’ na classe. “Será que ele não existe mesmo?”, “mas como assim meus pais compram os presentes?”, “e os desenhos, as listas de presente…?”
Colocamos os meninos para dormir, juntei o pai, a filha e a coragem para esta conversa. Não queria desaponta-la mas mentir não fazia sentido, ainda mais quando uma classe inteira sabe que Sint Nikolaas é uma história. Julia estuda em um grupo vertical, com crianças entre 8 e 12 anos, então provavelmente seria a ultima a saber da verdade.
– Mama, eu sei que o Sint Nikolaas já morreu.
Respiramos fundo e contamos a verdade. Aproveitamos para falar sobre o Sinterklaas com uma perspectiva historica. Focamos no fato de que ele existiu: foi um bispo e era protetor das crianças. Julia, com seus grandes olhos arrgalados, ouviu tudo com atenção. ‘Nossa, não acredito’ ; ‘então, é verdade, ele já não existe’.
– Mas por que voces dão presentes?
A conversa aguçou sua curiosidade e ela queria saber mais e mais sobre o assunto. Explicamos que dar presente é uma forma de mimar as crianças e que nós pais, gostamos de paparicar nossos filhos. Ela disse que entendeu a situação, percebi que ela se sentiu grande, a verdadeira irmã mais velha, e pedimos que ela nos ajudasse a seguir com esta tradição com seus irmãos.
Eu tinha medo dela se ver enganada mas acho que foi compreendida: nós a ouvimos primeiro, deixamos ela falar, perguntar e depois dizemos a verdade. Foi um bate papo gostoso e nada traumático. A conversa aconteceu algumas semanas antes do 5 de Dezembro, dia em que Sint Nikolaas traz os presentes para as crianças, então tivemos tempo para nos organizar e tudo ocorreu como manda o figurino: as criancas produziram pilhas de desenho, colocaram os sapatinhos na lareira e cantaram todas as musicas do repertório do Sint.
Nosso pakjesavond foi delicioso: meus sogros vieram em casa, comemos kaasfondue (fondue de queijo), pepernoten, speculaas e chocolate. Por volta das 7 horas as crianças começaram a cantar musiquinhas para o Sint na frente da lareira e de repente ouvimos um barulho lá fora… será que era ele?
Era! Assim como todos os anos, o bom velhinho holandês passou na nossa casa trazendo um saco de presentes. As crianças, ansiosas há dias, foram à loucura. Abrimos os presentes, brincamos e brindamos. A noite mais importante do ano no universo infantil holandês foi especial. E a verdade sobre a existência do Sint não fez a menor diferença para a Julia. Fomos dormir exaustos e felizes.
Dank u, Sinterklaas!
Obrigada, Sint Nikolaas.
Eu dei uma risada alta aqui, com o “tem criança pequena na mesa”. Que fofa a Julia!
Que fofa Ana! As minha estarão com 7 anos ano que vem e já fico pensando na melhor forma de contar a verdade quando elas descobrirem. Vou pegar sua dica! #criancascrescendorapidodemais
Beijos
Crescem muito rapido, não? Eu achei que a Julia iria aguentar mais um ano, mas tudo aconteceu de uma forma natural e isso foi o mais bacana. Bjs
Ahhhhh essa Julia, sempre tão esperta e maravilhosa nas suas convicções. Parabéns pra vc Ana Paula; muito bom pensar nas respostas e atitudes com as crianças ! ??