01/05/2020

Por

Ana

Eu não sei como você está vivendo este confinamento, mas para mim tem sido um desafio diário. Trabalho, filhos e casa tudojuntoeaomesmotempo tem sido às vezes sufocante. Sem falar na ineficiência: corro o dia todo (dentro de casa) e no final do dia tenho muitas vezes a sensação de não ter feito nada – e ainda sim estou morta de cansaço. Alguém mais? 

Mas não estou escrevendo aqui para te botar ainda mais para baixo, não sou assim, pelo contrário, quero dividir este processo para que você não se sinta sozinho. Tamojuntos mesmo. 

Uma coisa que está quarentena me deu foi tempo: tempo para pensar, para correr, para ficar com meus filhos, tempo para ler, para assar bolo dia sim e no outro também. Não tenho tempo para matar, como muita gente tem – alias eu acho que cada um vive a quarentena como pode e na boa, quem sou eu para julgar – eu não vi todas as séries da Netflix e “não tenho nada pra fazer” ainda não entrou no meu vocabulário. Então se você mora sozinho, ou tem filhos adolescentes e já trabalhava de casa, acredito que esteja vivendo uma situação bem diferente da minha: leia-se três crianças entre 11 e 4 anos, trabalho full time e um hobby/ trabalho chamado blog. To na jornada tripla, gente. 

cenas de uma quarentena: trabalhando e estudando com o filho do meio
Estudando e trabalhando durante a quarentena. De batom, o mundo pode cair e eu sigo passando batom.

Aceitando a quarentena

Quando a quarentena deu seus primeiros sinais de vida na Holanda, num domingo 15 de março, a primeira coisa que pensei foi: deixa comigo. Eu vesti a camisa, disse ‘pode vir mundo’ e me preparei para enfrentar toda esta situação no estilo mulher maravilha. Eu posso, eu consigo era o meu mantra. E não seria diferente, sou assim: se cair, levanta que a vida segue em frente.

Trabalhar de casa? Claro! Estudar com as crianças? Que maravilha. E já que estou em casa, vamos testar receitas, arrumar armários e manter tudo limpo e organizado. Sem contar que com o tempo extra eu poderia gravar videos diariamente, escrever sem parar blablabla. 

Se eu consegui fazer tudo isso? Consegui sim, mas quase morri de cansaço. Achei uma loucura fazer tudo ao mesmo tempo, trabalhei muito e fui extremamente ineficiente. Depois de umas duas semanas tentando, resolvi mudar. Organizei meu dia em partes e combinei com o marido que trabalhariamos em turnos: eu ficaria de manhã com as crianças e as tarefas escolares, enquanto ele trabalhava e na parte da tarde trocaríamos o turno. A verdade é que no papel este esquema parece perfeito, na vida real eu tive reuniões durante os ditados de holandês e meu marido passou por dias extremamente estressantes onde mal saia do nosso escritório em casa para comer. 

Levei uma sacudida e cheguei a conclusão que não dá para fazer tudo. Não e a toa que cada pessoa tem um talento e um papel na vida: eu até posso auxiliar meus filhos com a lição, mas não sou professora. Então, caro leitor, eu percebi que tinha que aceitar a situação como ela e. Sou bem ruim nisso, by the way. Aceitar e deixar. Let it go. E um exercício que tenho feito diariamente, tentar me cobrar menos, ser menos exigente e aceitar (de novo) que a situação e delicada e que ela exige muito jogo de cintura. 

Combinei comigo que eu faço o que posso, dou o meu melhor dentro do meu alcance. E está tudo bem. Se eu tenho um dia muito cheio as crianças assistem mais TV do que eu gostaria. So be it. Também tenho tentado focar nas coisas boas deste confinamento, pensar no que faço ao invés do que não consigo fazer. Me exercito muito mais do que o normal, corro com o marido todos os dias, o que nos uniu como casal, tenho reuniões (por telefone) no quintal com o pé descalço e leio o jornal de cabo a rabo todos os dias. 

Tem dias que estou em paz, tem dias que estou louca. Grito e medito na mesma proporção. Não sei quanto tempo tudo isso vai durar, nem mesmo o que será o “novo normal” quando e se voltarmos ao normal, mas de momento estou de bem comigo, às vezes triste, às vezes emocional e às vezes feliz, aceitando esta situação e tentando viver da melhor forma possível. 

Se cuide, fique bem. 

Sol e sorvete amenizam a quarentena
O lado positivo desses dias: sol, sorvete e os meus meninos