31/12/2020

Por

Ana

Estava assistindo a retrospectiva 2020 no noticiário holandês. Logo no primeiro semestre do ano as lagrimas começaram a rolar. Como não se emocionar com a historia do pai e filho que morreram presos em um elevador como consequência de um incendo causando por fogos de artificio em um prédio em Arnhem? E isso em 1 de janeiro de 2020.

Nem preciso dizer que o que veio depois tampouco levantou meu espirito: ver as cenas de George Floyd me virou o estômago. “Mãe, o que é isso?” perguntou meu filho de 9 anos. “Não assiste” respondi instintivamente e depois disse, senta aqui que eu te explico.

Incêndios na Australia, explosão em Beirute e claro, Covid-19. 2020 foi pesado demais, não preciso explicar. Voce também tem com certeza uma dúzia de motivos para detestar este ano. Um morador do meu bairro se revoltou tanto que enfeitou a casa para o natal com um gigante dedo do meio. “Het was een k jaar”, foi um ano de merda, ele disse.

Mas eu prefiro pensar que o copo esta sempre meio cheio. Pode me chamar de PollyANNA se quiser. Sou – ou ao menos tento ser – positiva. Então depois da retrospectiva deprê do noticiário holandês fui para a cama pensando na minha própria retrospectiva.

O que teve de bom em 2020

Me curei, minha família se curou

2020 começou bom depois de um natal maravilhoso nos Alpes Franceses com a família. Mas em janeiro tive um susto atras de outro. Minha mãe voltou para o Brasil com pneumonia (sabe lá Deus se era Covid-19…) e minha irmã do meio teve um AVC. Aos 37 anos. Quando tudo estava melhorando e tanto a minha irmã como a minha mãe se recuperavam, eu adoeci.

Contei esta experiencia aqui. Foi punk, foi assustador. Perdi completamente o controle do meu corpo que com o passar dos dias só piorava. Mas sai dessa. Foram semanas de recuperação em casa – só fui conseguir agachar e dobrar o joelho depois de meses. Então, gente querida, saude é o que importa. E eu sou muito agradecida por ter saído dessa, por ter me recuperado, assim como minha mãe e minha irmã.

Criei um novo hábito

Quando a quarentena começou por aqui fiquei louca como boa parte da população. Homeschool, home office e o home todo caindo sobre minhas costas. Uhuu. Até que marido sugeriu caminhar. De manha cedo enquanto a casa ainda dormia. A principio uma forma de se exercitar já que as academias também estavam fechadas.

Começamos assim em março um novo hábito, todas as manhãs (por volta de 6:30) saíamos para dar uma volta no parque próximo de casa. As caminhadas se tornaram corridas e geraram companheirismo.

É de manhã que a gente conversa – sem interrupção dos filhos – discute o dia-a-dia e faz planos. Seguimos forte no passo durante a primavera, verão e inverno. No ano que vem vamos fazer um brinde a este nosso hábito.

Passei mais tempo com meus filhos

Ok, tem dias que eu quero pregar os três na parede. Ou fazer as malas e sair de casa. Mas a verdade é que esta pandemia louca me aproximou dos meus três filhos.

Meu marido e eu trabalhamos fora, gastávamos uma fortuna com creche e babá e víamos as crianças no fim do dia. Hoje em dia estamos todos mais próximos. Mais unidos mesmo. Conversamos mais com as crianças, participamos mais de todas as atividades, brigamos mais e nos amamos mais também.

O tempo passa, eles crescem. Pelo menos em 2020 eu vi tudo isso acontecer de perto.

Mudei de trabalho

Não estava planejando uma mudança no ano em que sobreviver foi mais importante que suceder. Mas uma oportunidades cruzou meu caminho e eu agarrei a chance. Mudei de trabalho em plena pandemia. Ralei pra caramba. Aprendi muito e tive dias com dor de barriga de nervoso achando que não ia dar conta do serviço.

O trabalho é temporário – um job de 6 meses dentro da minha empresa – e eu não sei ao certo o que vou fazer depois. Mas estou vivendo dia após dia. Previsões são tãããããão 2019.

Fiz 40 anos!

Quarenta anos! E foi tudo de bom. Estou ótima, com saude e me sentindo melhor do que nunca. Os planos eram de ir para o Brasil no para celebrar com a minha familia: meu pai fez 70 anos e eu 40, estávamos programando um festão. Mas não rolou (ainda).

Mesmo com todos os planos desabando e com as medidas mudando a cada semana eu tive um aniversario fantástico! Meu marido preparou surpresas maravilhosas, minha irmã veio com o marido de Portugal (quase morri do coração) e meu primo que tinha acabado de se mudar para a Alemanha apareceu.

Organizei um almoço muito especial com amigas queridas e tive dias maravilhosos. Me senti querida, amada e feliz – até agora cai uma lagriminha.

celebrando os 40 anos nos canais de Amsterdam
Feliz 40!

Comecei a cuidar melhor de mim

Deve ter sido os 40 mas este ano decidi que era hora de cuidar de mim. Comecei a fazer terapia – recomendo a todos, antes mesmo dos 40 – e descobri a yoga.

Sou a iniciante das iniciantes mas estou adorando ter este tempinho para mim. Estou aprendendo a meditar e a agradecer. Sinto que estou mais centrada e mais consciente. Tenho um longo caminho pela frente mas o primeiro passou eu já dei.

Esta foi minha pequena retrospectiva positiva de 2020. Outras tantas coisas boas aconteceram: o Rafael começou na escola, fiz novas amizades, fui para Lisboa antes da pandemia…

A lista de coisas que não aconteceram este ano talvez seja ainda maior mas eu prefiro focar nas coisas boas da vida. Estou com saude, minha família também, não peguei Covid-19 (acho), tenho um teto, uma geladeria cheia, filhos, marido, amigos e muito amor.

Eu espero que 2021 seja o ano da esperança, com muita saude e prosperidade.

Um feliz ano novo!