14/03/2022

Por

Ana

Em especial ao dia das mulheres – e que nossa luta por igualdade permaneça sempre, não apenas no 8 de março – fiz uma live bem informativa e legal com a Alyne que trabalha como doula na Holanda. Falamos sobre os mitos que envolvem o parto na Holanda. 

Eu tenho a impressão que muitas mulheres recém-chegadas, que têm o desejo de engravidar, ou chegam em gestação, ficam assustadas com o estilo holandes de ter filhos. Então nossa idéia com a live foi informar sobre o assunto. Eu com a minha experiência de mãe de três, todos nascidos aqui de forma natural, e a Alyne, com seus conhecimentos como doula  e também mãe de dois holandesinhos. 

E gente, eu entendo as perguntas, nóias e medos. Ter filho já é uma decisão e tanto na vida, ter filho em outro país, em um idioma estrangeiro, não facilita muito este processo. Então este artigo e a live todinha para esclarecer suas dúvidas e acalmar seu coração. 

Quer (re)ver a live? Clique aqui.

O parto na Holanda é sempre com dor ou existe opção de anestesia? 

Parir dói. Ponto. Não vamos romantizar a situação. Seu corpo inteiro está trabalhando para trazer um serzinho ao mundo, é todo um processo que envolve hormônios e dilatações. E a dor neste caso faz parte deste processo. É uma dor do bem. 

Claro que o limite de dor é algo relativo, eu por exemplo descobri que aguento muito! E no quesito dor de parto aprendi ao longo das três gestações que as contrações, apesar de doídas, eram positivas pois a cada contração eu estava mais perto do meu bebê. Falei mais sobre esta experiência no relato de parto do meu caçula.

Agora, se você quiser ter auxílio anestésico durante o parto, saiba que é possível! A Holanda oferece estas opções de anestesia durante o trabalho de parto: 

  • Epidural/Peridural 
  • Remifentanil via endovenosa 
  • Óxido nitroso/gás do riso via inalatória 
  • Petidina via intramuscular

Quer entender melhor as diferenças, prós e contras? A Alyne tem um e-book gratuito sobre este assunto. É só baixar aqui

verdades sobre o parto na Holanda
Foto Heather Mount on Unsplash

Existe cesárea na Holanda?

Graças ao bom Deus e aos médicos que cesarianas existem. Já imaginou o risco para a mulher e o bebê se não existissem? A diferença é que aqui a cesárea acontece por indicação médica, quando há necessidade. É algo pontual e não elegível. 

Como assim? 

A princípio, o sistema de saúde preza e prioriza o parto vaginal e caso haja necessidade, a cesárea é marcada. Para você ter uma idéia em números: apenas 13% dos partos holandeses são via cesárea. É um número bem baixo comparado com o Brasil que ocupa o segundo lugar no mundo em número de partos cirúrgicos, com uma taxa acima de 86% na rede privada e 42% no SUS.

Posso ter um parto normal após já ter passado por cesárea em gestação anterior?

O parto normal após cesárea ainda assusta muita gente que acredita que depois de uma cesárea a mulher só poderá ter outros filhos também via cesárea. Mas isso não é verdade. Há quem tenha uma ou mais cesáreas e consiga parir naturalmente e sem nenhuma intercorrência. O parto normal após cesárea é possível e até indicado, por ser mais seguro e ter grandes chances de sucesso. Para quem quiser se aprofundar no assunto, recomendo a leitura deste artigo aqui.

Pré-natal na Holanda é precário?

Segundo a Alyne, o pré-natal holandês é equivalente ao pré-natal oferecido pelo SUS no Brasil. A gestante tem acompanhamento da verloskundige (obstetriz, midwife, em inglês) durante a gestação e faz os exames necessários, como ultrassom por volta da 12a semana para confirmar a gravidez e os batimentos cardíacos e mais duas ultrassons durante a gestação. 

A Alyne também tem um e-book super detalhado sobre os exames pré-natais na Holanda. Recomendo a leitura. Aqui o link para baixar o e-book gratuitamente.

Se eu puder falar pela minha experiência, acho que o acompanhamento aqui é bom e completo. No meu caso, quando algo precisava ser checado ou um ultrassom extra deveria ser feito, tudo isso aconteceu de forma natural. Ou seja, apesar de não termos ultrassom a cada consulta, vale lembrar que os exames são feitos em prol da saúde da mulher e do bebê, e a gestante é encaminhada para hospitais e especialistas se houver necessidade.

72 horas em trabalho de parto é normal?

Tudo depende da hora em que você começa a contar quando entrou em trabalho de parto. No meu caso, o meu primeiro parto, da Júlia, demorou umas 18 horas… mas eu contei desde a primeira colicazinha. Daí não consegui dormir de nervoso, e na hora em que as contrações de verdade vieram, estava exausta. 

No meu segundo filho estava bem mais tranquila, nem lembro quanto tempo o parto durou. Já no terceiro filho, quando as contrações começaram, me fechei sozinha no quarto e fui ouvir música e dançar (sim, eu dancei) até as contrações sérias chegarem. Acho que em 3 horas esse menino veio ao mundo. Até hoje não sei como ele não nasceu no carro e também me pergunto o que fui fazer no hospital, poderia ter parido em casa, numa boa.  

Outra polêmica aqui é em relação à bolsa. Sabe aqueles filmes que quando a bolsa estoura a pessoa sai correndo? Então, não é bem por aí. Pode ser que sua bolsa estoure e se a coloração da água estiver clara e límpida, você não precisa sair correndo para o hospital. Avise sua obstetriz e anote o horário que isso aconteceu. Isso porque após 24hs de bolsa rota, a gestante terá que ter um parto no hospital devido ao maior risco de infecção.

A função da mulher no parto

Dar à luz em casa é tão seguro quanto dar a luz no hospital

Simone Buitendijk, pesquisadora

Acho que podemos dizer que o parto humanizado que ouvimos falar tanto no Brasil, é o parto estilo holandês que vivenciamos aqui, e talvez, boa parte disso aconteça por termos mulheres no comando, as midwives, obstetrizes. 

Parto aqui é menos institucionalizado, menos comercial e mais natural, e em boa parte com mulheres cuidando de mulheres. Para você ter uma ideia, 83% dos partos na Holanda acontecem de forma natural. E não estou demonizando cesáreas, elas existem por necessidade (e ainda bem que existem). Eu mesma nasci em uma cesariana de emergência, e estou aqui firme e forte. Grazadeus que tinha um hospital e médicos para atender minha mãe naquele 27 de setembro. 

Outro fato interessante: na Holanda, 25% das mulheres grávidas dão à luz em casa. Na maioria dos outros países europeus, isso quase sempre acontece em hospitais. Pouquíssimas mulheres ocidentais dão à luz em casa. E segundo a pesquisadora Simone Buitendijk da TNO: “dar à luz em casa é tão seguro quanto dar à luz no hospital”.

Ficou alguma dúvida e quer conversar com a Alyne sobre este tema? Aqui o contato dela.