20/10/2022
Por
Ana
Estamos no outono, o que significa gripe, tosse e dor de ouvido. Eu amo esta estação, mas odeio ficar doente. Quem gosta? Veja meus filhos como exemplo. Na semana em que fui para Mykonos com as amigas (depois eu conto mais sobre essa viagem), o caçula ficou com uma virose em casa. Quando voltei, o do meio estava ruim e depois foi a vez da filha mais velha.
É a roleta da virose. Viva!
Eu estou longe de ser hipocondríaca e não sou uma mãe super protetora, mas confesso que ter que lidar com o sistema de saúde holandês com criança febril é desafiador demais. Frustrante, isso sim.
Otite e bate e volta de Zeeland
Semana passada Miguel havia sido convidado para uma festa/fim de semana em Zeeland, no sul do país. Ele estava bem animado por passar uns dias com os amigos, o programa perfeito e o pontapé inicial para as férias de outono.
Eu me voluntariei em levar alguns meninos até lá, outro pai buscaria a molecada no final de semana. Saímos cedo de Amsterdam em um dia de chuva e trânsito. 2 horas depois chegávamos à pitoresca Kruiningen. A família do aniversariante vive em uma casa antiga e imensa, que um dia foi casa de repouso. Então imagina: dezenas de quartos, sala gigante, corredores sem fim. Um espaço que eu desconheço no norte do país. Em todos os cantos livros, cadeiras, lustres e objetos de decoração. Uma mistura de cenário de filme e “meu Deus, quanta tralha” – os donos podiam participar daqueles programas de colecionadores, sabe? Enfim, o contexto perfeito para uma aventura com os amigos de 10 anos.
Mas Miguel vinha de umas semanas debilitado. Teve tosse, febre, school camp (que é legal mas destrói a imunidade de qualquer criança) e antes de me despedir me disse que estava com um pouco de dor de cabeça. Abracei, cruzei os dedos e não dei muita importância para sua queixa na hora de dar adeus. Ele é sempre carinhoso e um tiquinho sentimental nessas horas.
Voltei para Amsterdam com o caçula fazendo planos para a tarde chuvosa, afinal, ele tinha o dia livre e estava entediado após 300km no carro. Cinema foi sua escolha, íamos ao cinema na sessão das 5 horas. Chegamos em casa, tirei os sapatos, pendurei o casaco e meu telefone tocou: era o pai do aniversariante informando Miguel estava com dor de ouvido – e eu com vontade de chorar pensando que teria que dirigir outros 300 km.
Ligar ou não ligar para o médico de família?
Antes de pegar a estrada, decidi ligar para nosso médico de família, o huisarts. Afinal, Miguel tinha um histórico de gripe e essa dor de ouvido vinha como a cereja do bolo. Além disso, dor de ouvido é cruel demais. Meus dois meninos são campeões de otite e já passaram por cirurgia no ouvido.
A conversa com a assistente do consultório não foi das melhores. Ouvi coisas do tipo “dor de ouvido passa em 2, 3 dias” e no fim tive que me contentar com gotas para a dor e paracetamol, claro. “Mas se ele não melhorar em 3 dias, ligue novamente”. E o melhor: “consulte o site: ‘quando devo ligar para o médico.nl’ antes de ligar para o médico”. Tudo o que eu não precisava naquele momento.
Miguel chegou em casa um caco, dormiu o caminho todo de volta. O pai foi buscá-lo e eu fui ao cinema com o caçula. Passamos o final de semana intercalando paracetamol com ibuprofeno e as gotas no ouvido. No domingo ele acordou mais pálido que papel e a dor se alastrava pelo lado direito do rosto e garganta.
Liguei novamente para o huisarts. Dessa vez precisei de poucas palavras para explicar a situação e em algumas horas éramos bem-vindos no consultório. Em 5 minutos o veredito: uma provável infecção. Dããã!
Atenção e um ouvido amigo
Eu entendo consultórios lotados, entendo gripe de outono e entendo que devemos dar tempo para o nosso corpo se recuperar sozinho. Eu juro que compreendo tudo isso. Controlo febre, espero primeiramente uma reação natural do organismo, mas se desconfio, se não me sinto confortável, ligo e quero ser atendida. Se procuro contato é porque preciso.
O que mais me deixa chateada nessa situação é ver uma criança sofrer à toa. Quando eu liguei pela primeira vez, expliquei que a única coisa que queria, era que alguém controlasse seu ouvido, porque se tivesse inflamado, bem, apenas o paracetamol, gotas e o carinho de mãe talvez não seriam suficientes.
E essa é a minha maior briga aqui. Eu não quero medicação sempre, eu não preciso de antibiótico para qualquer situação, longe disso: o que eu peço é atenção! Eu não sou totalmente contra o sistema de saúde holandês, porque como já ressaltei, não sou a mãe que sai correndo no primeiro sinal de febre. Mas o descaso do huisarts, o ter que “quase implorar para ser atendida”, me cansa muito. Muito.
Então, se você leu até aqui, vou te contar uma coisa que aprendi neste país – e que serve para toda e qualquer situação: aqui a gente tem que pedir tudo. Não estou falando em choramingar, mas sim expressar o que você deseja. Seja uma consulta de emergência, uma vaga na aula de natação, aquela atenção extra da professora, um aumento de salário, etc.
Então nesses anos todos eu aprendi a bater o pé e brigar pelo que quero. Com o huisarts nem sempre funciona de imediato mas eu tento, ah se tento.
PS1: Miguel passa bem
PS2: minha briga é com o huisarts, acho o sistema de saúde hospitalar bem diferente do que este primeiro contato. Fui operada há alguns anos e tive (e tenho) uma experiência completamente diferente. Se quiser ler mais sobre esse tema, tem post aqui.
[…] muitos anos se passaram desde que escrevi o texto acima e pouco mudou. Semana passada mesmo teve outro textão depois de muita gripe e inflamação no ouvido do […]
Em Maastricht tenho tido boa experiência com huisarts. Toda vez que tive problemas com a minha filha de 5 anos, sequer liguei (o recomendado). Fui pessoalmente e fui atendida em poucos minutos pelo médico disponível.
O Huisarts é o que mais odeio na Holanda, sem dúvida. Essa história de esperar a coisa piorar para ser atendida não faz o mínimo sentido. Fora que prevenção é uma palavra que não existe no vocabulário deles. Obrigada pela indicação do remédio para dor de ouvido, caso eu tenha novamente, já sei como resolver. Enfim, compartilho da sua frustração, por isso deixei um comentário aqui.
Abraços, Alê.